domingo, 28 de setembro de 2008

Ali - enquanto o mundo gira

Enquanto agora tomamos café
Soldados brincalhões marcham
Sobre o chão úmido da Mata Atlântica:
Eles construirão fortalezas
Com as árvores que derrubamos

Enquanto decidimos, do alto comando, os rumos do mundo
Soldados desordenados pela graça do ser
Subvertem os templos:
Eles destruirão as certezas erguidas
Como as árvores que derrubamos

E apesar das janelas fechadas
Podemos vê-los à porta
De uma parede sem porta:
Eles não hesitarão em abri-la
Com as árvores que derrubamos

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

lugar-comum, como um lugar qualquer

num romance policial
as coisas podem até se encaixar
mas a realidade não tem sentido, afinal
“veja” isso na ficção do jornal
nas corridas em circulo
nas voltas que o mundo dar
nos vencedores invictos
do segundo lugar
lugar-comum, como um lugar qualquer
um atentado aos ateus:
“seja o que deus quiser”
lugar-comum, como um lugar qualquer
pra qualquer um, como um qualquer
lugar-comum, como um lugar qualquer
um convite aos crentes:
“acredite... se quiser”
lugar-comum, como um lugar qualquer
a submissão à priori do homem à mulher
seguida do desprezo banal de quem consegue o que quer
quem, depois do coito, ao dormir, oferece as costas
na eterna partida do devir
para o lugar-comum
como um lugar qualquer

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A hora e a vez do joelho falar

Meu joelho pede morfina


Hoje acordei pensando em passear por aí
Poronde não haja dor, só alegria
e
pro meu joelho fudido, anestesia


Passear apenas pensando em ir
Pensando em passear por aí

Hoje eu quero uma garota estúpida
Zero QI

E pro prefeito uma morte súbita


Subitamente cair nos teus braços
E pra contrariar a rima, tirar do verso os laços
E lançá-los no espaço simulado do nosso contato.
E contanto que não tenhamos pressa
O resto, se sobrar, também nos interessa.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Deslocada


Nada mais me interessa e consola, além dos anestésicos e do fumo...que amenizam a dor do meu joelho lesionado.
Como pano de fundo, a música lança seu ritmo no mundo e é como se agora eu escrevesse ao compasso de uma melodia manca (pois teve a rótula deslocada), mas que insiste no seu caminhar: manca com o caminhar elegante de quem não desiste – insiste no seu caminhar, apesar da rótula deslocada.
Devo escrever esses versos
Para que um amigo os transforme em música
Mas o que pensam os versos e a música
Desses amigos que os transformam
Que lhes usam e abusam?

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Ah, é a vida, é a vida!

Ah, é a vida, é vida.
acordo e pronto: já foi dada a largada. cotidiano à frente da janela por abrir. cotidiano à frente de qualquer janela.penso nela, no texto pra escrever, nas leituras acadêmicas, no meu amigo poeta.e. afinal, por alguns segundos, penso em mim. e também só por alguns segundos, estranho ser eu.

Me desculpe, Chico, mas também é Cotidiano

Penso na dicotomia entre inatismo e empirismo
mas o tema é muito tenso, penso em desconversar o pensamento
e deitar no papel qualquer coisa mais solta... leve

Ajeito a postura, não da caligrafia - essa eterna cansada, mas a do corpo:
minha coluna me pede em silêncio
e ainda há quem diga que a dor-muda é exclusividade das massas

Conforto
eu quero
em todos os sentidos: físico e espiritual
nonsentido materialista da coisa

Mas me levanto
vou até a sala
abaixo o volume da TV
e abro as janelas:
a rua continua ali, logo em baixo
na sua arquitetura atemporal
nos pedestres apressados
mas principalmente
nas suas pedras imóveis
o chão é sua identidade fixa:
por mais que lhe troquem as pedras
a imobilidade inabalável persiste

Desço as escadas
alcanço a calçada
chego no ponto
espero espero espero
adentro o ônibus atrasado
agora
em relação ao ônibus
estou parado
em relação à rua
em movimento
ela continua parada

Encosto minha cabeça pesada na poltrona e penso:
quanta relatividade!