sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Legitimando...

A experiência continua escapando à linguagem. Mesmo a metalinguagem, reincidente-reincidente, não contempla a coisa. Mas o assunto não era esse, apesar desse ser o assunto constante. Não é nada impessoal, quem me dera (ou não)... se fosse.

A pergunta da vez - com a ilusão de quem tenta apalpar-se simbolicamente: sou um cafajeste?

E apesar da reflexão, respondo quase que prontamente ao espelho: não, não sou um cafajeste. Não há compromisso, nem expectativas... nem expectativas que ultrapassem o hoje ou saudades que suscitem imagens do ontem: estou suspenso, ainda que toque o chão, estou suspenso.

Reacendo a ponta apagada no canto do cinzeiro – impessoalidade? Nenhuma.

Voltarei ao quarto dos meus pais.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Memória fractal e fórmulas mágicas

Sal grosso, banho de cheiro, cueca suja... superstições: é o aparato místico nacional apoiando o piloto, na corrida mais tecnológica da história, mas ninguém está indo ao espaço... voarão baixo, por aqui mesmo, “in concret jungle”.

Na TV, a apresentadora loira, em seu programatinal, vestida a rigor, ou seja, com o macacão do piloto, entrevista o piloto. Veiculação da imagem do Massa para as massas, no veículo de massa... que, definitivamente, não é o carro vermelho... jóias raras, por definição, não podem ser tocadas pela multidão.

Lembro da ironia ácida do meu professor
Lembro da garota - aquela
Do empate sem gols ..ontem... entre Vitória e Flamengo
Da pizza, das pizzas... mas frango com catupiry é uma unanimidade
Assim como a corrida do próximo domingo.

Enquanto isso...
Nos bastidores da prova... nos bastidores da TV... previsões sobre o tempo
Que não existe.
No jardim suspenso (I)

Metalinguagem por favor;
Pouca luz;
Pôr do sol;
¿Pra que poesia?
Ontem adrenalina, hoje calmaria.
Puta que pariu.
¿Pra que poesia?

Subliminaridade.
Não do que é sublime.
Pôr do sol;
Calmaria;
Clareira;
E pra que poesia?

Talvez por um beijo...
"Ou qualquer coisa de..."

E as placas não dizem nada.
Os insetos voam e zunem;
Mas ainda assim...
Pra que poesia?
Para pintar as placas.
As placas vazias.

Os bichos fogem da gente.
E de quem fugimos agora?
Da torre, tudo se vê
Só não se sabe quando.
Panóptico.
Passarinho voe!Passarinho voou.

Metalinguagem.

obs.: "maisdomesmo"

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Devaneios mediados por computadores


Thiago diz:
Nossa geração é qualquer fast-food... digerido, digerida rápida... entre dentes, estomagos de gentes... de indigentes, cladestinos nos seus apartamentos. Nossa geração é eternamente instantanea, pronta pro consumo.

Erika diz:
E é ao mesmo tempo que surda e muda , quieta e estranha vontade e desejo de não comprar, e sim vender.Mas não conseguem nem conseguirão. Pq a nossa geração é feita de sonhos de latas. sem rosas.

Thiago diz:
Transitamos entre a vontade contida de transar em público, para radicalizar a pornografização do espetáculo... e a esperança de que um olhar apreenda tudo que a nudez de mil corpos padronizados nunca atingirá.

Erika diz:
Caminham entre a insensatez do desejo e a falta do conhecimento do que é o amor. E quem sabe um dia entenderão que aquele olhar que lê a alma insulta a covardia da mão que despe corpos cansados.

Thiago diz:
Corpos. corpos. vitrinis e corpos. manequins de plástico (ou sei lá de que matéria prima)... E a nossa geração parada em frente às vidraçarias do céu... compraremos nosso passaporte para a identificação com a alteridade. A geração do rivotril... não tem sono hoje e nem sede de amanhã.

Thiago diz:
finalize

Erika diz:
E nem fome de amor. nem saber de paixão. Só valores, so etiquetas perdidas em fundos de copos de vodka, que, bebidos de uma vez dão saudade do tempo em que saudade ainda era bom.

continua (começa?):
www.erikacotrim.blogspot.com

domingo, 19 de outubro de 2008

Tempo Real


O céu é esse corpo exposto, sem sombra ou rosto, dando a face pra bater. Nele, deslizam as nuvens, penduram as bolsas e, no salão principal, medo da recessão.


O céu é esse olho azul e branco... de furacão incolor, bandeirolas vermelhas no ano das olimpíadas, mas já faz tanto tempo e o nosso eterno “como se fosse ontem” está cada vez mais longe.


O céu é sol na contramão do fim da história, luz sem fim de túnel... túnel sem fim... a objetividade carece de provas: os fatos são demasiados suspeitos.. suspensos sobre os servos da razão. A música do céu é para ser ouvida, invisível, inodora, anti-sinestésica: vento audível para ouvidos atentos e olhos fechados: a imagem, "filha da saudade", está aqui, longe do olhar: aqui.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Janelas abertas (acesas)



Abro a pequena janela do meu quarto e a noite é como um velho quadro na parede: garranchos de nuvens se sobrepõem às linhas finas e invisíveis das estrelas.


A essa hora, em algum lugar perto ou longe daqui, alguém acabou de acender um cigarro e, se não houver algo que o atrapalhe, esse alguém fumará todo seu cigarro, depois o lançará, no chão da rua, num canto do cinzeiro cheio ou na cabeça de outrem, que agora passa sob seu prédio. Mas ainda nesse instante, alguém decidiu não acender o cigarro, resistiu à vontade fulminante depois do empate vergonhoso da seleção brasileira de futebol e, para não voltar a cair em tentação, desligou a tevê – para alguns, desligar a tevê é abrir a janela, para a maioria... o contrário. Aliás, é tristemente óbvio que algumas coisas sejam para alguns e que a maioria sempre se contente com o contrário. No entanto, minha tevê continua ligada, tão fragmentária e distraída quanto esse texto, e pretendo deixá-la assim: tevê não carece de atenção e nem quer. Visto isso, descalço as sandálias ao tempo que tenciono, em pensamento, acender meu cigarro.


Já com o meu cigarro aceso, penso na inutilidade do parágrafo anterior enquanto oponho os limites da linguagem, ao tentar representar, contemplar “o fumar”, à sensação indescritível da libertação de todos os pensamentos, num trago e na fumaça que o precede, cerca e segue. Falar sobre fumar é inútil: é preciso tragar o que se quer saber, posto que a característica principal da representação reside na coisa que necessariamente ocupa o lugar da outra, uma coisa significando outra: falar sobre a coisa, redundantemente assim, não é a coisa em si: a coisa escapa às reduções simbólicas e, principalmente, à essa minha prolixidade cansativa. A coisa está pra lá de Bagdá e não há explosão que a traga de volta, ela nunca esteve aqui e não é fumaça.
Luís Fernando Veríssimo tem uma sintaxe interessante, é conciso, desenrola seu discurso em períodos curtos, uma ex-namorada o adora, se eu gostasse tanto quanto ela, e lesse mais coisas dele, quem sabe?!, talvez fosse uma boa influência, em dois dias de leitura, de repente, um milagre: períodos curtos e densos.


Por enquanto, ando mesmo é preocupado com a seleção, uma série de jogos sem vitória, em casa. O pessoal da janela já está até dizendo que a identidade nacional está sofrendo profundos abalos. O número dez do time disse que o time estava cansado, meu pai concorda e acredita que foi por conta da praia, à tarde, mas eu acho mesmo que tem a ver com o horário, o pessoal da janela decidiu que o jogo ia começar ainda mais tarde.


Desligo e fecho as janelas, continuarei fumando... antes de dormir, amanhã acordo cedo: vou à fábrica de janelas.