Tenho planos de ir à rua. Sim, caminhar, ver pessoas, turistas (que também são pessoas, mas diferentes) e (quem sabe?) me surpreender. É engraçado como vivemos esperando por uma surpresa. Mas ora, para que hajam surpresas não é preciso desatenção? Quero dizer, como alguém atento, à espera, à espreita... pode ser acometido pela graça rasteira de uma surpresa? Nonsense.
Sim, vou caminhar na rua, daqui a pouco. Antes, continuarei escrevendo isso, como quem escreve pra matar o tempo: a quem não tem o que fazer resta matar o que não existe. No entanto (repito muito esse advérbio adversativo, em outros momentos. nesse texto, é a primeira e última vez), o tempo é mesmo uma convenção necessária – ao menos tem sido desde quando o inventamos: quem inventou o tempo não tinha o que fazer e estava a procura de algo para matar o tempo? (fica para tarefa de casa refletir sobre).
A verdade é que enquanto arquiteto planos de ir à rua, o tempo (que não existe) passa, no relógio do canto inferior direito dessa tela à minha frente, nos relógios dos pulsos de bilhões de pessoas que se preocupam com o tempo mais do que as pessoas que não têm relógios de pulso. Não tenho um relógio de pulso, por isso, quando sem celular, não tenho nada mais que indique a hora preso a meu corpo – sou mesmo um vagabundo: meu pai não discorda.
Mas e a rua, como andará a rua lá fora? Sob os pés apertados (pelos calçados) das pessoas (turistas e tudo mais)? Ou a rua anda parada ultimamente? Não, parada não, é verão, ela anda mesmo muito movimentada, o pessoal que cuida dos carros aumentou consideravelmente seu faturamento – mais pessoas têm carros. É isso, a rua não está parada ou andando sob pés... mas sim sob rodas. Quem tem tempo para ir a pé à lua? Tempo é dinheiro. Tempo não existe. Vou caminhar até a lua, ela está crescendo – ilusão de óptica, ilusão vital.